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sábado, 11 de novembro de 2017

A Salvação pela Graça

Pois assim como por uma só ofensa veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também por um só ato de justiça veio a graça sobre todos os homens para justificação de vida” Rm 5.18

A Salvação pela Graça

Uma acusação comum aos pentecostais é que não conhecemos a graça de Deus. Acusa-nos de legalistas porque em pleno século XXI preservamos costumes — como os que de quaisquer igrejas evangélicas também são conservados, embora diferente dos nossos — em detrimento da graça de Deus, dizem eles. Nesse assunto, os pentecostais também concordam com a teologia arminiana, em que o fundamento essencial na dinâmica da salvação é o da graça proveniente e que toda salvação é fruto inteiramente da graça de Deus. Retomando mais uma vez o auxílio do teólogo arminiano Roger Olson, passamos a conceituar graça preveniente.

A graça proveniente é uma doutrina elevada da graça

Com graça proveniente se quer dizer o chamado de Deus no sentido de ser dEle a iniciativa do começo de relação com uma pessoa que é livre para responder a esse chamado com arrependimento e fé. Esse processo proveniente da graça, segundo Roger Olson, inclui ao menos quatro aspectos: chamada, convicção, iluminação e capacitação. Por isso, alinhado à visão arminiana, o pentecostal não tem dificuldade de pregar a graça de Deus e, ao mesmo tempo, reconhecer que a chamada para a salvação pode ser rejeitada pela pessoa. É muito claro para o pentecostal que nenhuma pessoa pode arrepender-se, crer e ser salva sem o auxílio sobrenatural do Espírito Santo. Este age do início ao fim do processo salvífico. Entretanto, é preciso que a pessoa não resista ao Espírito, como fizeram os fariseu são resistirem arduamente à mensagem de Jesus Cristo (Mt 12.22-32), mas coopere com o Espírito reconhecendo a própria condição de pecador e crendo no único Salvador.

O que pensava Armínio acerca da graça de Deus na salvação?

Segundo Roger Olson, a teologia de Armínio sempre foi compromissada com a graça de Deus e o teólogo holandês jamais atribuiu qualquer eficácia salvífica à bondade ou à força de vontade do ser humano. Isso é importante destacar, pois é um equívoco pensar que quem afirma que o ser humano pode resistir a graça de Deus está dizendo que o que define a salvação é a vontade humana. Nada mais injusto!
Não havia dúvida para Armínio que a salvação era de graça, provinha de Deus, era um presente incomensurável do Altíssimo para o homem. Entretanto, o problema para Armínio, e o mesmo para os pentecostais, era que “de acordo com as escrituras, que muitas pessoas resistem ao Espírito Santo e rejeitam a graça que é oferecida”. Revista Ensinador cristão nº72

A nossa salvação é fruto único e exclusivo da graça de Deus.

Texto Bíblico - Romanos 5.6-10,15,17,18,20; 11.6

Prezado(a) professor(a), na lição deste domingo estudaremos a respeito da maravilhosa graça de Jesus. A nossa salvação é resultado desta graça, ou seja, do favor imerecido de Deus à humanidade pecadora. Ninguém pode receber a salvação por méritos próprios ou pela observância da Lei, pois o seu propósito, segundo o apóstolo Paulo, era somente apontar o pecado a fim de nos conduzir a Cristo (Gl 3.24).
Embora a lição não trate a respeito do legalismo, acreditamos ser importante ressaltar que ele é antagônico, adverso à graça. Por isso, no decorrer da lição enfatize que o homem é salvo unicamente pela fé em Cristo Jesus, pela graça, e não pelas obras da Lei ou pelo seu esforço em tentar agradar a Deus.

INTRODUÇÃO

A Lei no Antigo Testamento tem a função de instruir e ensinar ao povo o que Deus estabeleceu aos israelitas a fim de eles terem um convívio próspero, pacífico e harmonioso na terra de Canaã. Os mandamentos contêm preceitos indispensáveis de moral, de ética e de vida religiosa, sem os quais o povo viveria num caos. Entretanto, na impossibilidade de os seres humanos cumprirem plenamente a Lei para tornarem-se justos, Deus nos outorgou a sua maravilhosa graça.

A SALVAÇÃO PELA GRAÇA

Maravilhosa graça que perdido me encontrou Estando cego pude ver, Cristo me resgatou Quando sua graça me tocou, do medo me livrou Quão preciosa é pra mim a graça do Senhor.90

Graça é uma atitude benevolente e incondicional em prol de outro e é também a manifestação da essência de Deus assim como Ele é. Quando Ele libera graça, não está ofertando algo que é seu, mas, sim, auto-ofertando-se, pois amor incondicional é o que o constitui em sua essência.

A graça de Deus é estendida a todas as dimensões da vida e não somente na salvação. É o que alguns teólogos chamam de graça comum. Ela é vista no domínio físico quando diz que Deus faz nascer o seu sol sobre maus e bons e vir chuvas sobre justos e injustos (ver Mt 5.44-45) e nas belezas da criação com suas múltiplas cores, nuances, beleza e mistério; é também vista na capacidade intelectual de desenvolver o conhecimento, a ciência, a tecnologia, as artes e em tudo que a humanidade cria; na capacidade moral e na demonstração de bondade, mesmo em pessoas más; na capacidade que a sociedade tem de, apesar de muita maldade, conseguir organizar-se e viver em harmonia; na organização das religiões, que, mesmo sendo pagãs, revelam traços do mistério divino e da transcendência de Deus; e ainda na capacidade da gratuidade humana em ajudar e cuidar do próximo.

Mas há também a graça preveniente, que é aquela que opera para a salvação, onde o Espírito Santo convence, chama e ilumina o indivíduo a crer, o que precede a conversão e possibilita o arrependimento e a fé. Para os calvinistas, ela é irresistível e eficaz, ou seja, a pessoa beneficiada por essa graça vai obrigatoriamente crer e arrepender-se para a salvação, mas não há liberdade de escolha. Para os arminianos, ela é resistível, ou seja, a resposta a essa graça depende da vontade da pessoa (At 7.51). Sem a graça preveniente, porém, as pessoas poderão resistir à vontade de Deus por causa da escravidão do pecado. Portanto, graça preveniente é aquela que precede a salvação e prepara o indivíduo para recebê-la. O Espírito Santo exerce essa graça preparatória no homem enfraquecido pelo pecado e também impossibilitado de crer em Deus. A Teologia afirma ainda que a graça é eficaz (o que Deus propõe e cumpre não falha) e suficiente (ela pode salvar perfeitamente os que se aproximam de Deus por meio de Cristo).

No Antigo Testamento, a palavra usada para graça é hen, que significa favor, inclinação; ou ainda rason, favor. Essa palavra, entretanto, aparece poucas vezes no AT; mas, em vários contextos históricos, está claramente revelado que houve manifestação da graça de Deus. Como exemplo, cito o caso de Davi; quando ele pecou com Bate-Seba, a consequência foi a morte do seu primeiro filho; entretanto, o segundo, Salomão, tornou-se rei de Israel e sobrepujou Davi em sabedoria e riqueza.

No Novo Testamento, a palavra grega empregada é charis e normalmente significa dádiva, dom gratuito, graça,91 agradável, atraente.92 Jesus não utiliza a palavra graça nos seus ensinos; mesmo assim, seus atos estão saturados desse conceito em muitos momentos em que se manifesta a graça de Deus para com os pecadores, os fracos, os pobres e os perdidos.93 Suas palavras são cheias de ensino em que há perdão de dívidas incalculáveis, galardão precioso e propostas de vida nova apesar das tragédias causadas pelo pecado. Assim, pode-se afirmar que:

Graça é a maneira pela qual Deus se dispõe a receber, de braços abertos, o pecador, não obstante sua santidade absoluta e o estado miserável em que se encontra aquele que dele se desviou. É uma bênção ou um favor verdadeiramente imerecido e indevido, que Deus concede em sua soberania [...]. Deus não tem nenhuma obrigação de perdoar. Ninguém tem o direito de cobrar tal coisa de Deus. Ele, no entanto, perdoa por causa da graça. A iniciativa é sempre de Deus.94

Para Paulo,95 que abandonou uma religiosidade legalista e hipócrita que consistia da conquista do favor de Deus por mérito pessoal para, então, abraçar o cristianismo, a graça é entendida como essencial à salvação, pois, através da morte de Cristo, o pecador alcança favor incondicional de Deus, não necessitando de absolutamente nenhum esforço humano para alcançá-la; basta ter fé para a salvação. “Mas, se é por graça, já não é pelas obras; de outra maneira, a graça já não é graça” (Rm 11.6). Entretanto, essa mesma graça que salva não permite o ser humano ficar sob o domínio do pecado, pois aqueles que são alcançados por ela passam a experimentar o processo de santificação.

LEI E GRAÇA

A Palavra de Deus é composta pelo Antigo e Novo Testamentos, cujos conteúdos são compostos pela Lei e pelo evangelho, sendo que o Antigo Testamento não contém somente a Lei e vice-versa. O conteúdo da Lei e do Evangelho perpassa todo o conteúdo bíblico; há, no entanto, uma maior ênfase de conteúdos em cada um dos Testamentos respectivamente. A Lei serve como um condutor para o encontro com Cristo e sua graça (Gl 3.24).

A Lei convence-nos, por sua impossibilidade de ser cumprida, de que não podemos alcançar a salvação sem a mediação de Cristo. Desse modo, a Lei tem sentido depreciativo para mostrar o estado daqueles que se justificam sob a Lei, quando se torna nossa própria justiça como mérito humano que impossibilita obter a salvação, somente alcançável pelo Evangelho da graça. A graça é superior à Lei. Paulo contrasta a superioridade do Espírito em relação à Lei (Gl 5.18) e afirma que morremos para a Lei (Rm 7.4; Gl 2.19). O escritor aos Hebreus salienta que a Lei tornou-se antiquada e imperfeita (Hb 8.6-7, 13), e João afirma que Cristo trouxe a graça e a verdade (Jo 1.17). “Que diremos, pois? É a lei pecado? De modo nenhum! Mas eu não conheci o pecado senão pela lei” (Rm 7.7). A Lei somente existe porque foi outorgada por causa do pecado e para apontar o pecado; por isso, a graça de Deus é superior à Lei, pois a graça de Deus é anterior ao pecado e à Lei.

Pecado não é aquilo que necessariamente fere a Deus e nem aquilo que o destrona ou o diminui, mas, sim, tudo o que prejudica o ser humano de alguma forma; quando Deus define o que é pecado, Ele não define pensando nEle, mas, sim, no pecador. Logo, o papel da Lei é mostrar de antemão tudo aquilo que prejudica para que, assim, possamos defender-nos e evitar ser feridos. No entanto, não há como se defender de tudo o que faz mal, pois a natureza pecaminosa reside em nós. É nesse momento que a graça de Deus entra em ação. A Lei foi sinalizada no coração das pessoas pela própria natureza, e ela existe especialmente como consequência do pecado para delimitar a ética e a moral humana. Embora sinalizada no coração (Rm 2.14-15), ela precisou ser mais bem esclarecida por Deus utilizando-se de Moisés para descrevê-la de modo sistemático e ampliado. Já o evangelho é uma revelação nova do amor de Deus (Gl 1.12), tanto é que produz escândalo (1 Co 1.23) e já era presente no Antigo Testamento, porém inteiramente revelado no Novo Testamento e especificamente na pessoa de Cristo, sendo a graça de Deus um elemento principal do evangelho. Lei e evangelho são complementares, embora com funções diferentes. Ambos podem virar legalismo quando servem para quantificar a obediência e a desobediência no ambiente religioso.

O papel da Lei tinha um propósito material de preservar o homem do pecado e um propósito espiritual de mostrar quão terrível é o pecado (“Pela lei vem o conhecimento do pecado” (Rm 3.20)), e quão grande é a necessidade da graça para obter a salvação, pois é impossível cumprir a Lei (Rm 7.19; Tg 2.10), que é entendida como a vontade de Deus presente em todo o Antigo Testamento. Dessa forma, estamos sob a Lei Moral de Deus, no sentido de que ela continua representando nossos deveres e obrigações para com o Senhor e para com o nosso semelhante e, no sentido de que ela, resumida nos Dez Mandamentos, representa o caminho traçado por Deus no processo de santificação efetivado pelo Espírito Santo (Jo 14.15). Nesse aspecto, o papel do Espírito Santo é ajudar a cumprir a Lei. A própria Lei Moral de Deus é uma expressão de sua graça, representando a revelação clara de sua vontade santa, justa e boa (Rm 7.12). A Lei coloca a todos sob a maldição do pecado. É ela quem avilta e mostra a crueldade do pecado e as consequências da desobediência. A Lei é boa (Rm 7.16; 1 Tm 1.8) porque quer evitar a ruína humana apontando-lhe o caminho certo a seguir, mas é impossível cumpri-la. Deus utiliza-se de sua misericórdia para tolerar o pecado e ofereceu o seu Filho manifestando a sua graça para perdoar e permitir que a humanidade possa, através de Cristo e por seus méritos, satisfazer as exigências da Lei, impossíveis de serem cumpridas.

A Lei oferece a salvação (seu cumprimento), e essa é a parte boa da Lei, mas também a condenação (a incapacidade de cumpri-la), e essa é a perdição que a Lei traz ao homem. A violação da Lei, tanto por transgressão quanto por não conseguir cumpri-la, traz inevitáveis consequências punitivas, tendo como fim a morte (Rm 6.23).96

Desobedecer à Lei traz implicações sérias ao ser humano, não necessariamente por ela possuir algum valor ou dignidade inerente, mas porque desobedecê-la implica em atacar a própria natureza de Deus. Por esse motivo, o legalismo é uma afronta a Deus, pois a Lei deve ser entendida como um meio para relacionar-se pessoalmente com Deus, e não uma norma fria superior a Ele mesmo. Não apenas a obediência cega à Lei é legalismo, mas também toda regra humana, ou usos e costumes, que se estabelecem como superiores ao evangelho da graça e obscurecem-na (Gl 1.3ss).

A Lei, vocábulo procedente da palavra grega nomos, é a imposição de regras e normas para o convívio pacífico e justo entre as pessoas; ela ainda cumpre um propósito divino de expressar a bondade de Deus com vista à satisfação humana através de uma ética comum. Dessa forma, a desobediência à Lei implica em desobedecer ao próprio Deus porque a Lei é uma transcrição da essência moral de Deus. Esse é o motivo das consequências drásticas ao ser humano que desobedece à Lei.

A Lei tem a função teológica de revelar-nos como pecadores, acusando-nos diante de Deus e colocando-nos em ira, juízo e condenação; tem também a função pedagógica de conduzir-nos a Cristo para sermos justificados pela fé. Revelando a desgraça do pecado, somos conduzidos à extrema necessidade do perdão e da graça divina, representando uma ponte que nos conduz a Cristo.97

Como Deus é amor e para não prejudicar a raça humana com a impossibilidade de cumprir a Lei, Ele, desde sempre, teve suas ações regidas por sua bondosa gratuidade, o que chamamos de graça, que Paulo denomina de “o escândalo do evangelho”. Assim, morremos para a Lei com Cristo, embora ela não tenha sido anulada, pois Jesus é tudo em todos (Cl 3.11), inclusive a Lei, pois a cumpriu. Dessa forma, não é mais a Lei de Moisés que tem valor final, mas é o “vocês ouviram o que foi dito [...] mas eu lhes digo [...]” (Mt 5.22,28,32,34,39,44 – NTLH) de Jesus proferido no Sermão do Monte, ou seja, a Lei do amor e da ética do evangelho suplanta a Lei de Moisés. O próprio Jesus afirmou que “A Lei e os Profetas duraram até João; desde então, é anunciado o Reino de Deus” (Lc 16.16a) Por isso, Paulo escreveu: “Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça tendes caído” (Gl 5.4).

O Deus apresentado pelo Antigo Testamento é fruto de uma revelação progressiva dEle ao homem, e, em muitos casos, Ele é mostrado como sendo um Deus que exige méritos para abençoar, pois boa parte da Teologia do Antigo Testamento é meritória. Por isso, o Novo Testamento aponta para o fato de que o Antigo Testamento foi suplantado pelo Novo, embora não tenha sido abolido nem rejeitado, sendo o evangelho a solução definitiva para a redenção da humanidade. Paulo afirmou que “o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Rm 10.4). Ela “nos serviu de aio, para nos conduzir a Cristo, para que, pela fé, fôssemos justificados. Mas, depois que a fé veio, já não estamos debaixo de aio” (Gl 3.24-25).

Para compreender melhor a importância e a relevância do evangelho da graça, precisamos atentar para o que o autor aos Hebreus escreveu: “Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas. Porque, se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo. [...] Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tornado velho e se envelhece perto está de acabar” (Hb 8.6-7,13).


O FAVOR IMERECIDO

Um importante aspecto do significado de graça em sentido original no grego (charis) é sua relação com a beleza tanto de gestos e palavras98 quanto àquilo que dá prazer e provoca júbilo por causa de sua graciosidade presente na beleza das pessoas e de suas ações. “Graça e beleza são conceitos afins; graça e feiura são termos mutuamente excludentes.”99

Na cruz, Jesus foi a manifestação da graça. A cruz foi seu símbolo (1 Co 1.18). O símbolo é a figura com que se representa um conceito; logo, “a graça (entenda-se como graça o ato salvífico, expiatório) seria o conceito, e a cruz, seu símbolo. Isso estabeleceria que graça e cruz são dois elementos distintos, porque uma, a cruz, só representa a outra, a graça; uma é material, a outra abstrata.”100

A graça da cruz está representada na motivação de Jesus para enfrentar a cruz: os outros.101 Nessa afirmação, concentra-se toda a essência pela qual Jesus achou necessário morrer, que é justamente seu gesto gracioso, voluntário e positivamente definidor em prol da humanidade, cujo fim é a salvação de todo o que crê. A graça de Deus opera a salvação, atuando pela fé no Filho de Deus (Rm 3.28; 5.2). “E seja achado nele, não tendo a minha justiça que vem da lei, mas a que vem pela fé em Cristo, a saber, a justiça que vem de Deus, pela fé” (Fp 3.9).

Não há transgressão, por maior que seja, ou pecador, por pior que seja, que não possa ser alcançado por essa graça, pois, onde abundou o pecado, que foi exposto pela Lei, superabundou a graça (ver Rm 5.20). Foi por compreender a grandeza da graça que o apóstolo João escreveu que, “se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2.1).

A graça, no entanto, jamais é ou será um salvo-conduto para a prática do pecado ou para a libertinagem (Gl 5.13); muito pelo contrário, ela convoca-nos à obediência em gratidão ao doador da graça. Quando se ama, faz-se de tudo para agradar; portanto, “o amor de Cristo nos constrange” (2 Co 5.14) a fazermos coisas por Ele que lhe são agradáveis (1 Ts 4.1) e glorifiquem seu nome, pois o cumprimento da Lei é o amor (Rm 13.10; 1 Jo 2.5). Assim sendo, viver pela graça é uma questão de escolha humana. Foi por isso que Armínio escreveu:

A respeito da graça e do livre-arbítrio, isto é o que ensino, a respeito das Escrituras e do consenso ortodoxo: o livre-arbítrio é incapaz de iniciar ou aperfeiçoar qualquer bem verdadeiro e espiritual, sem graça. Para que eu não possa ser considerado como Pelágio, como usando mentiras com respeito à palavra “graça”, quero dizer, com isto, aquilo que é a graça de Cristo e que diz respeito à regeneração. Portanto, afirmo que esta graça é simples e absolutamente necessária para o esclarecimento da mente, a devida ordenação dos interesses e sentimentos, e a inclinação da vontade para o que é bom. É esta graça que opera na mente, nos sentimentos e na vontade; que infunde na mente bons pensamentos; inspira bons desejos às ações, e faz com que a vontade coloque em ação bons pensamentos e bons desejos. Esta graça vai antes, acompanha e segue; instiga, auxilia, opera o que queremos, e coopera, para que não queiramos em vão. Ela evita tentações, auxilia e concede socorro em meio às tentações, sustenta o homem contra a carne, o mundo e Satanás, e, nesse grande conflito, concede vitória ao ser humano. Ela levanta outra vez os que são vencidos e os que estão caídos, firmando-os e dando a eles nova força, além de fazer com que sejam mais cuidadosos. Esta graça inicia a salvação, promovendoa, aperfeiçoando-a e consumando-a.102

Paulo, antecipando o problema que pode surgir ao lidar com a graça de Deus de forma irresponsável, faz a pergunta e também a responde: “Que diremos, pois? Permaneceremos no pecado, para que a graça seja mais abundante? De modo nenhum! Nós que estamos mortos para o pecado, como viveremos ainda nele?” (Rm 6.1-2). O autor aos Hebreus complementa ainda: “Para que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que, pela fé e paciência, herdam as promessas” (Hb 6.12). Dessa forma, a graça faz que sejamos ainda mais responsáveis diante de Deus no cultivo de uma santidade que leva em conta a gratuidade e a bondade dEle (Rm 2.4).

Dois extremos podem estar presentes na compreensão da graça: o primeiro é o de que ela possibilita uma liberdade total para pecar à vontade (Rm 6.12), pois Cristo perdoa. Entretanto, a desobediência fere a imagem de Deus em nós e no nosso próximo e traz consequências. “Será que posso pecar indiscriminadamente?” Isso tem resposta bíblica quando se afirma que maior castigo sobrevirá sobre os que profanarem o sangue do pacto e ultrajarem o Espírito da graça (Hb 10.29). Dietrich Bonhoeffer (1906–1945), levando em conta a possível negligência para com a graça de Deus, escreveu a conhecida sentença:

Graça barata é graça como refugo, perdão malbaratado, consolo malbaratado, [...] é a pregação do perdão sem arrependimento, é o batismo sem a disciplina de uma congregação, é a absolvição sem confissão pessoal [...], é graça sem discipulado, [...] sem a cruz, a graça sem Jesus Cristo vivo, encarnado.103

O outro extremo é o de achar que é impossível receber um presente tão valioso como a salvação sem que para tal seja necessário dar algo em troca; isso pode levar ao legalismo, ao ascetismo ou ao misticismo,104 tentando alcançar a salvação por obras, tão combatida por Paulo na epístola aos Gálatas (Gl 5.4,6). Essa atitude pode levar ao orgulho espiritual (Ef 2.8-9) e gerar toda sorte de hipocrisias (Mt 23.23). Dessa forma, criam-se meios de autossalvação inventando-se regras para aliviar a consciência ao invés de confiar na obra completa de Cristo. (Gl 3.1-5). Por isso, Paulo alertou os colossenses:

Se, pois, estais mortos com Cristo quanto aos rudimentos do mundo, por que vos carregam ainda de ordenanças, como se vivêsseis no mundo, tais como: não toques, não proves, não manuseies? As quais coisas todas perecem pelo uso, segundo os preceitos e doutrinas dos homens; as quais têm, na verdade, alguma aparência de sabedoria, em devoção voluntária, humildade e em disciplina do corpo, mas não são de valor algum, senão para a satisfação da carne. (Cl 2.20-23)

Os agraciados pela graça são os que compreendem que somos devedores para com Deus e para com os irmãos (Rm 13.8) e, por isso, amam como Cristo amou (Jo 13.35). Os que vivem sob a liberdade da graça desenvolvem uma santidade que reflete a beleza de Cristo no homem interior, que extravasa nas mais diferentes esferas da vida humana e em total confiança em Deus para tudo. Essa mesma graça permite estarmos mortos para o pecado (Rm 6.11, 13) e vivendo a Lei de Cristo para alcançar os que vivem sem Ele (1 Co 9.21).

Assim, nossa única saída é confiar inteiramente em Cristo, que nos perdoa, aceita e ama do jeito que somos. Esse amor, porém, constrange-me a obedecer-lhe. O contrário disso seria a negação da eficácia da obra de Cristo. A religião diz o que devo fazer (obedecer); Jesus diz o que Ele já fez por mim (confiar).


O ESCÂNDALO DA GRAÇA

Exatamente pelo fato de a graça de Deus ser um escândalo é que existe tanta dificuldade em compreendê-la de forma plena. Alguns usando os argumentos da liberdade fazem dela um salvo-conduto para pecar; outros caem no legalismo e anulam o efeito da graça, tornando ineficaz a obra de Cristo. Certamente, uma das formas de compreender é perceber o conceito da graça de Deus presente na Parábola dos Vinhateiros. Ali não há méritos por tempo de serviço ou produtividade; a mesma recompensa dos que iniciaram o trabalho no fim do dia é dado aos que começaram no início do dia, mesmo que o senhor tenha sido injusto aos olhos dos trabalhadores. É essa aparente injustiça sob a ótica humana que caracteriza a graça de Deus.

A justiça divina, se comparada com a humana, é imensamente perdoadora; por isso, a graça torna-se injusta sob a ótica humana, pois é imerecida e incoerente. Por esse motivo, Paulo classificou-a como escandalosa (1 Co 1.23; Gl 5.11).

Antropologicamente, o ser humano tem a necessidade de expiar sua culpa, conforme descrito no primeiro capítulo deste livro. Dentro dele, há um grito na alma que faz anelar por um preço que precisa ser pago. Por isso, muitos crentes não entendem a graça de Deus e acham que precisam ter méritos diante dEle, pagando um preço pela sua salvação. E assim são inventados os esquemas humanos (legalismos, critérios, ordenanças, doutrinas, etc.)105 para tentar “acalmar” a ira de Deus sobre o homem, criando-se situações meritórias; entretanto, tudo já foi pago por Cristo, os méritos são dEle, e não do homem com seus esforços.106 Não podemos viver sem a observância da Lei (Tg 2.24), pois ela conduz nossas vidas a um bom caminho de relacionamento com Deus e com o próximo; entretanto, estamos cônscios de que o que nos salva é a graça de Deus somente, presenteada a nós através da morte de Cristo na cruz do Calvário.

Isso não significa que, confiando na graça de Deus para a salvação, não se precisa mais fazer nada após a salvação. Deve-se, sim, continuar lutando para construir uma vida de santificação, renunciando tudo aquilo que nos afasta de Deus. O que muda é que, a partir da ótica da graça, não se faz mais nada para ser salvo, mas faz-se em gratidão a tudo o que Cristo já fez. O desejo de santificação e renúncia a tudo o que nos afasta de Cristo não parte de um coração que quer entrar no céu por méritos próprios, pois a graça trouxe a consciência de que nada que se faça pode garantir o que tão somente o sacrifício de Cristo garante: a salvação. Por outro lado, não se consegue viver na graça e continuar satisfazendo os desejos impuros do velho homem. A diferença é que tudo o que se faz agora é motivado por um sentimento de gratidão e pertença, e não de troca e barganha.

Compreender a graça e não ter consciência de que a nova vida com Cristo significa separação do mundo pecaminoso e dedicação exclusiva a Deus é um forte indício de que ainda não se compreendeu o que é viver na graça de Deus. Viver essa graça produz em nós a satisfação plena em Deus; logo, todas as outras fontes de prazer ferem ao invés de satisfazerem. Eis um indício de estarmos compreendendo a graça de Deus: viver a graça não isenta de pecar, mas o pecado que antes trazia prazer causa agora dor e arrependimento genuíno.

Pelo fato de a graça ser algo que depende exclusivamente de Deus sem merecimento por parte do recebedor (Ef 2.8), Paulo enfatiza a impossibilidade de estar sob a graça e a Lei ao mesmo tempo, no sentido de obter a salvação por uma ou por outra, pois, nesse sentido, ambas são excludentes. Portanto, ou o indivíduo é salvo pela Lei, o que é impossível, ou ele depende inteiramente da graça de Deus, pois por “obras da lei nenhuma carne será justificada” (Gl 2.16; At 15.11).

A graça é algo ao qual é impossível o seu recebedor retribuir. A única coisa que lhe cabe é agradecer,107 pois qualquer gesto de retribuição tirar-lhe-ia a qualidade de favor imerecido, tornando-se, assim, um mérito. Como no relacionamento com Deus não existem méritos, pois somente Cristo tem méritos, é um ato de afronta contra o doador querer retribuí-lo; entretanto, até mesmo tal afronta é coberta pela graça.

Os que compreendem a graça devem desenvolver a incrível capacidade de simplesmente se deixarem presentear por Deus. Somente esses são justificados porque aceitam ser aceitos, “a despeito de ser inaceitável”,108 e assim se permitem embalar nos braços do amor e do perdão. Para os filhos de Deus, cônscios da graça do Pai, tudo é presente, é dádiva. Não há reivindicação, nem presunção de méritos, mas somente gratidão e ação de graças, pois a graça de Deus aceita o inaceitável.

Quando o cristão entende a graça de Deus, ele necessariamente vai expressar essa mesma graça no relacionamento com outros cristãos, ou seja, o recebimento da graça resultará em atos graciosos e cheios de beleza por parte do recebedor. Isso, entretanto, não é feito por mérito; é simplesmente a reação graciosa de gratidão para com a graça recebida, mas vai além disso; ela é expressada como “presente para a comunidade, um benefício para o bem comum.”109 Logo, podemos afirmar que cristãos que não reagem assim à graça provavelmente não a compreenderam ainda.

Falar de graça implica um binômio presente na sanidade espiritual, que consiste em ela (a graça) operar em conjunto com a gratidão. A reação normal a qualquer oferta de graça é agir com gratidão. A graça é o princípio central de nossa Teologia, e a gratidão é o princípio central de nossa ética. O crente precisa conhecer “três verdades básicas: quão grande é o nosso pecado, quão grande é a graça de Deus que nos redimiu e quão grande deve ser nossa gratidão a Deus por sua graça.”110 Exercitar a gratidão diante de grandes ou pequenos gestos da graça de Deus demonstra um coração que avançou em sua caminhada espiritual e reconheceu a grandeza da superabundante graça oferecida na cruz. Mostrar gratidão mesmo quando o coração estiver cheio de lamúrias, mágoas e ressentimentos é uma escolha que fazemos; posso optar por falar de bondade e beleza, mesmo quando, interiormente, ainda procuro alguém para acusar ou achar algo feio.

Na lição desta semana, estudamos a relação da Graça e a Lei; vimos que a graça é favor imerecido; e compreendemos que ela chega a ser um escândalo para os que não creem. Portanto, estamos cônscios de que o que nos salva é a graça de Deus mediante a fé somente (Ef 2.8). E o livre-arbítrio? É possível perder a salvação? São assuntos que veremos nas próximas lições.


Fonte:
Livro de Apoio - 4º Trim/17 – A Obra da Salvação - Claiton Ivan Pommerening
Lições Bíblicas Adultos 4º trimestre/17 - A Obra da Salvação — Jesus Cristo é o caminho, a verdade e a vida – Comentarista: Claiton Ivan Pommerening

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